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ARTIGOS

 

 

Diário da Manhã

data: 12/03/15

 

Uma análise psiquiátrica do porquê dos políticos de oposição estarem dizendo que não querem o impeachment de Dilma

 

Nestes últimos dias surgiu na mídia um fato intrigante: o PSDB contra o impeachment de Dilma. Em Goiás, o governador do PSDB arregimentou um tipo de “movimento pró-Dilma”, assim como Alckmin, um tanto mais timidamente. O próprio FHC, o senador  Aloysio Nunes (vice na chapa de Aécio), pressionados quanto a isto, saíram pela tangente: “a gente vai acompanhar, não participar”. Tipo assim: “fumei mas não traguei”, “estupra mas não mata”.  Não é intrigante este tipo de atitude, sobretudo de um partido que deveria ser o maior entusiasta da derrota do PT?

É claro que há uma óbvia-ululante prosaica explicação política para isto: querem que a Dilma sangre em praça pública  até 2018 e assim detone a “triunfal volta de Lula”. Foi mais ou menos o mesmo tipo de cálculo “genial” (do tipo  “tucano-em-cima-do-muro”) que fizeram em 2005,no auge do mensalão: “vamos poupar o Lula porque no ano que vem tem eleição e ele vai sangrar até lá, aí a gente entra e ganha de lavada”.  Deu no que deu, Lula recuperou-se e deu-lhes de lavada.

Mas há uma outra interpretação para isto: o PSDB, assim como todos os partidos políticos brasileiros, compartilham da visão anciã do “protagonismo do Estado” na vida do cidadão. Não caiu a ficha deste pessoal, ou não “quiseram cair”, que vivemos, hoje, em um outro paradigma político: o da contenstação pública, transparente, via internet, da legitimidade do próprio Estado, do próprio governo, dos próprios políticos. Quando os políticos veem, ou pelo menos intuem, o abacaxi que eles têm nas mãos, eles se unem (mesmo os de partido oposto, como PT e PSDB) e se tornam “amigos de infortúnio”,  a sua “amizade política” está acima do “bem-estar público do país”. Gostam muito de dizer, nos bastidores, uma frase lapidar: “governo não briga com governo”. Ou seja, isto quer dizer: “seja do PSDB,  seja do PT, do PSol, etc, um prefeito não briga com um governador, que por sua vez não briga com um presidente,  e assim por diante”. Isto porque o importante para este pessoal não é a modificação do paradigma  atual do Estado brasileiro  (que é o que a voz das ruas e da Net  reclama) e sim a pura permanência  de uma classe no poder (sob o apelido/sigla que for), a pura permanência em alguma estrutura de mando estatal, seja ela qual for.

Seja de que partido for, em momento algum passa por sua cabeça a repartição de seu grande poder estatal com a sociedade civil. Em nenhum momento pensam em criar mais mecanismos de transparência, reivindicação  e de participação da sociedade civil. Só pensam na “grandeza do Estado”, pois é aí que o “poder do político” se imiscui (p.ex., agora, num momento em que praticamente todos hospitais não estatais do Estado estão em situação de pré-falência, o governo anuncia a construção de mais um de seus hospitais, o do Ipasgo). Isto é, ao invés de contribuir com a sociedade civil para que produza e trabalhe, quer é criar mais estruturas estatais para os outros mamarem, mandarem ou roubarem, (ou seja, é o mesmo “modo Petrobras de ser”, no que pese todas as criticas que a tal “oposição” faz ao PT).

Este anacronismo é causa de seu sufoco, mas não largam o osso. Querem empurrar até o talo aquela tese do “vamos tentar continuar , a todo custo, mandando no Estado, e se colar colou”. Não vislumbraram ainda a gravidade e a situação de “não retorno” que a conjuntura popular antipolítica assumiu. Acham que irão surfar oportunisticamente na onda do “fora Dilma”, preservando suas prerrogativas de “político” e de “Estado” (“chegaremos como os salvadores”). Ainda não notaram que é todo o sistema representativo que está em crise, está ruindo pela imoralidade  não-transparente,  e que a vez deles, poderá mais cedo ou mais tarde chegar também.

 

(Marcelo Caixeta, médico psiquiatra)

 

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