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RESPOSTA ÀS CRÍTICAS DE MEU ARTIGO SOBRE O PILOTO SUICIDA ALEMÃO DA ÚLTIMA TERÇA

  • Marcelo Caixeta
  • 3 de abr. de 2015
  • 5 min de leitura

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Muitas oposições que recebi nas Redes Sociais ao meu último artigo dizem que "não é ético falar publicamente de um caso triste como este". Uma "opositora" chega a dizer que,”ao invés de expor os outros assim”, eu deveria é citar um caso do meu consultório. Outros dizem que "quero Ibope" em cima da desgraça dos outros. É interessante analisar estes argumentos. Veremos abaixo .

Em primeiro lugar, muitos não são argumentos contra meu artigo, mas contra minha pessoa. Num dos grupos de discussão, a comentadora diz-se “psicanalista e completamente contrária a “rótulos psiquiátricos” ( ou seja, profissional antipsiquiátrica) , contra “remédios psiquiátricos”. Noutro grupo, uma opositora diz-se adepta da “luta antimanicomial”, portanto minha “inimiga” , já que trabalho como um “abominável” médico psiquiatra, um “psiquiatrão”, em um mais abominável ainda “manicômio psiquiátrico”. Contra estas pessoas que têm uma “petição de princípio” contra a minha pessoa, pouco há o que argumentar. Seus móveis são de natureza “catatímica” ( quando a emoção obnubila a razão) e, portanto, é difícil argumentar contra os ataques “ad hominem” ( contra o homem e não contra a sua idéia ). Outras ainda se dizem “feministas libertárias”, portanto contra qualquer “opressão psiquiátrica machistóide”. Também se entende isto facilmente como argumentos irretorquíveis, não há o que me defender pelo fato de eu ser um “homem fálico”.

Mas, voltando para proveitosas discussões que possam advir de meus “contendores” - e as há, com certeza - causa certa espécie uma senhora mostrar-se contra a “exposição” do piloto alemão e querer que eu exponha aqui um caso particular meu, em “carne-e-osso”. Afinal , esta senhora precisa decidir se está argumentando “a favor da humanidade” ou “contra mim”. Pelo que parece, no final de sua petição ( “publique um caso próprio” ) ela desnuda suas próprias motivações : não tem preocupação humanitária nenhuma, quer mais é arrumar qualquer argumento, mesmo que seja a exposição não-humanitária de um de meus pacientes, para “me derrubar”.

Quanto aos que dizem que “eu estou em busca é de Ibope”, tenho alguns consolos mais palpáveis a oferecer : a) não preciso de pacientes de consultório, há muitos anos, pois estou com agenda fechada há muito tempo. b) não tenho nenhuma pretensão política. C) não tenho nenhuma pretensão a cargo médico nenhum , em Entidade Médica nenhuma, em Universidade nenhuma, etc. D) não tenho, nunca tive e acho que nunca terei, pretensões de ficar rico. E) minha vida é de casa para o hospital e do hospital para casa, todos que me conhecem podem testemunhar isto. Portanto não freqüento os “salões da grande sociedade”, os “salões da nobreza”, não freqüento as luzes da ribalta social, não freqüento “congressos médicos”, não dou “palestras acadêmicas”, não sou “show-men psiquiátrico de laboratórios ou associações médicas”, não sou “estrela acadêmica” de nada, ou seja, nada que me faça buscar aplausos , lava-pés e beija-mãos onde quer que eu vá. F) meu único objetivo na vida é poder tratar bem os que estão ao meu redor, seja na família, nos amigos, no hospital. E poder colocar minhas opiniões livremente, abertas ao debate e ao escrutínio opositor. É uma vida semi-espartana, e que só sai de seu círculo mais íntimo porque acho que nós, brasileiros, temos, sim, de perder o medo do debate e de dizermos o que pensamos e o que estamos vivendo. Este , ao meu ver, é um grande problema do Brasil ( vivi na Europa e vi a diferença ) : aqui foge-se do debate, aqui o objetivo final , “entre amigos e familiares”, é a “confraternização cervejada do churrasco na laje “. Escuta-se , como aqui eu escutei : “complicar prá quê?” , “deixa prá lá”, “fica na sua”, “não procure confusão”, “prá que falar mal dos outros”? – e assim vai...

Em momento algum faltei com respeito com o pobre Andreas Lubitz, pelo contrário. Compadeço-me com ele, com os familiares dos 150 mortos, com todos os doentes que estão sofrendo, mal-diagnosticados e mal-tratados por aí. E vivo esta realidade não só como médico psiquiatra, mas como doente eu mesmo. Portanto, meu objetivo, - me desculpe os contendores que me julgarão megalomaníaco e cabotino – é apenas o de mostrar uma realidade não só nacional, mas mundial, como se vê : a dificuldade de se manejar, diagnosticar, tratar, doenças psiquiátricas graves. E o caso me pareceu ser muito ilustrativo, muito educativo, sobre o que acontece e pode acontecer a qualquer hora : diagnósticos equivocados de “depressão” ou de “transtorno de ansiedade”,ou “transtorno psicossomático”, tudo isto ele recebeu, ( em momento algum Andreas recebeu o correto diagnostico – ao meu ver – de bipolar ) ; pacientes bipolares sem tratamento adequado, e que isto pode redundar em prejuízo mórbido e letal, não só para um mas para muitos ( além de ter tendências suicidas e não poder pilotar, relatos da mídia ora falam em tratamentos puramente psicológicos em uma fase de sua doença e , em outra fase, falam de uso ao meu ver incorreto de antidepressivos (no caso, agomelatina ), medicações que, como eu já disse em outro artigo, podem vir até piorar a situação do depressivo bipolar, pois podem lhe fornecer o “gás” que lhes falta para cometerem algum desatino). Contra meus contendores, aqueles que disseram que “é muito fácil falar do que já ocorreu”,eu brindo com estes dados novos, que ninguém sabia, e que só vêm corroborar o que eu já tinha dito sobre o caso no meu último artigo.

É evidente - vai por si - a constatação de que eu não conheço medicalmente o caso, não tenho elementos suficientes para diagnosticar, blábláblá. É tão óbvio isto tudo que só posso imputar este tipo de argumento não a quem quer discutir de fato, mas a quem quer denegrir o homem ( ad hominem ) peremptoriamente. Não é porque “eu não sou médico do caso” que eu não possa discorrer sobre ele; pelo contrário, é exatamente por não ser médico dele que eu posso discorrer. Se eu o fosse, estaria adstrito ao mais compungente segredo profissional. Quando se analisa um caso”teórico”, é evidente, do ponto de vista epistemológico, que se está a argumentar em tese, sobre o que “poderia ser”, sobre hipóteses, sobre experiências generalizadas, e não sobre o que é de fato. Portanto, a opinião que emiti sobre o infeliz piloto não passa, isso mesmo, de elucubração, de especulação, de hipótese, e que, como tais, podem estar redondamente enganadas. Podem estar enganadas no particular ( pois não sou médico do caso ), mas podem ser útil em tese, na medida em que a “tese” reflete uma generalização baseada em vários casos . Portanto, mais uma vez, desculpem-me a megalomania cabotina, desculpem-me a “ousada” contrafacção ao “pacato, cordial, e conciliador ” modus vivendi brasileiro, mas penso que , como médico psiquiatra, com formação teórica e prática que julgo adequada ( também posso estar errado neste particular ) , com 35 anos de prática hospitalar intensa e ininterrupta, acho que tenho,sim , algo a dizer. Assim como um mecânico de aviação poderia dizer sempre algo sobre as centenas de acidentes aéreos que ocorrem por aí, ou então como um dono-de-supermercado poderia emitir opiniões válidas, mesmo que especulativas, sobre a “inflação alimentar”, sobre a “insegurança jurídica do setor”, sobre a violência que grassa em seus estabelecimentos. Seria muito bom para toda a sociedade. Se não o fazem é justamente por causa do mal que estou aqui tentando combater e ao qual me imputam todo o meu pecado : “falar do que eu conheço visando apenas mudar as coisas” ( nem que seja para pior, mas que se mecham !) . E, olhem bem que isto não é nada de original ; já Camões, no seu inolvidável Os Lusíadas, deixava bem claro : “tomai conselhos só de experimentados”.

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Marcelo Caixeta ( blog =marcelofcaixeta.wix.com/marcelo), médico psiquiatra, escreve às terças, sextas, domingos, no Diário da Manhã – seção “Opinião Pública” -dmdigital.com.br )


 
 
 

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