ANÁLISE PSIQUIÁTRICA DO PORQUÊ DO BRASILEIRO TERCEIRIZAR PARA POLÍTICOS, JUÍZES, ETC, O QUE DEVERIA
- marcelofcaixeta
- 24 de abr. de 2015
- 3 min de leitura

Paralisados - pelo negativismo, pela passividade, pela inação – só resta ao brasileiro delegar nossa indignação para os “políticos combativos contra o Estado” ( tipo Caiado, Bolsonaro ) ou para os funcionários públicos certinhos-obsessivos ( tipo o Juiz Moro ). Com esta “transferência” de atribuições, mais uma vez realizamos nossa “sina brasileira” : ao invés de lutarmos nós mesmos no plano social, no plano comunitário, delegamos isto a terceiros ( que mais cedo ou mais tarde irão nos decepcionar ) e vamos fazer piquenique com os amigos e com a família.
Neste e no próximo artigo discutimos psiquiatricamente como chegamos a isto.
O cientista político venezelano Moisés Naim descreve um fenômeno que ocorre nos governos de esquerda ou com Estado forte, a “vetocracia”, isto é, a “ditadura do veto”. Funciona assim : se você quer fazer alguma coisa e submete isto à decisão colegiada, comunitária, “comunista”, de dez pessoas, pelo menos três serão contra você, por inveja ou outra coisa qualquer. Irão vetar seu projeto, sua “iniciativa privada”. E também, por causa do “espírito de funcionário público” ( “meu contra-cheque vem no fim do mês, trabalhe eu ou não, prá quê caçar serviço ?”) ninguém do “colegiado público” irá fazer aquilo que você iria. Então, com toda sua “energia criativa” represada, só restará a você fazer uma coisa : ajuntar-se ao coro dos negativistas, dos que reclamam, dos que denunciam, dos que fazem o “trabalho do negativo”. Aí, como vem acontecendo com o decaimento das manifestações de rua, notamos que nossas reclamações e denúncias não funcionam; aí ficamos ainda mais amargos, ressentidos e odiosos. Cria-se assim um “exército de passivos reclamões”. O governo, os poderosos, os políticos, os grandes empresários, ou seja, todos os “psicopatas” que, por causa de sua frieza constitucional, não se incomodam com as “reclamações”, acabam gostando deste estado de coisas. Não por causa da reclamação em si, mas por causa da passividade. Esta “passividade do brasileiro” caracteriza-se não só pela falta de ação efetiva ( “não quebramos nada, não criamos nenhuma estrutura de mudança”), mas também pelo lado da cognição. Esta “superficialidade das cognições”, inconsistência das ações ( aqui no Brasil logo perdemos o foco e “vamos prá praia” ) favorece ainda mais os poderosos, que se “escondem” facilmente das reclamações superficiais ( ou seja, que não vão “fundo” nas causas ) atrás de uma montanha de papel e de uma montanha de instituições. Quem está lá na linha de frente, recebendo cuspe-na-cara, são os enfermeiros e médicos, são os porteiros e os “zézinhos”, não os secretários de saúde, os ministros, os senadores, governadores, presidentes.
Movidos por uma busca de prazer, “sol e praia”, movidos por uma cognição superficial, só sabemos “reclamar no guichê”, não temos consistência, profundidade, perseverança, continuidade. Esta “inconsistência” caracteriza também o Governo e as “Autoridades”, fazendo o brasileiro descrer ainda mais em ações profundas e efetivas. Aí, descrendo nas ações profundas, o círculo vicioso se fecha, pois o brasileiro é “estimulado” a se tornar ainda mais superficial ( “isto não dá em nada” vou é prá casa curtir o “churrasco-na-laje” ) .
Obs- como vêm reclamando que meus artigos estão muito grandes, continuo a discussão deste assunto no artigo da próxima terça no Diário da Manhã.
.......................
Marcelo Caixeta, médico psiquiatra ( marcelofcaixeta.wix.com/marcelo ), escreve às terças, sextas, domingos na Seção Opinião Pública ( acesso livre em DM.com.br ) .
Comments