UMA CRÍTICA AO SINDICATO MÉDICO DE SÃO PAULO E SUA “PASSEATA EM DEFESA DO SUS”, ou COMO OS SINDICAT
- Marcelo Caixeta, médico psiquiatra
- 8 de abr. de 2015
- 4 min de leitura

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Dia 7.4.15, Dia Mundial da Saúde, o Sindicato dos Médicos de SP fez uma “marcha em defesa do SUS”. Entidades médicas apoiaram. O que é espantoso nisto tudo é que , hoje, o maior inimigo do médico brasileiro é justamente o SUS, é justamente a “medicina estatal”. Vou tentar explicar isto abaixo. Já fiz inúmeros artigos sobre isto, nos últimos dez anos, publicados nas Seção Opinião Pública do Diário da Manhã, todas terças, sextas, domingos, acesso gratuito em dmdigital.com.br. É um raciocínio muito longo e complexo, mas vou tentar resumir ao máximo, quem quiser mais detalhes, manifeste-se no meu blog ( marcelofcaixeta.wix.com/Marcelo ) ou no Face ( Marcelo Ferreira Caixeta , psiquiatra ) . Minhas teses são as seguintes :
1) O Governo Federal, assim como qualquer Governo deste país, não quer resolver o problema da saúde pública; quer usar da saúde para fins políticos e econômicos.
2) Se quisesse resolver o problema da saúde pública, seria extremamente simples : diminuiria encargos públicos em cima de médicos e hospitais e pagaria, decentemente, médicos e hospitais privados para aqueles pacientes muito pobres, aqueles que não têm condição mesmo de arcar com as despesas. Onde há dinheiro há trabalho , então, só com estas duas simples medidas inundaria os maiores grotões do país com assistência adequada.
3) Medicina e hospital é um custo como outro qualquer, educação, alimentação, segurança. O Governo deveria parar de extorquir, “roubar”, da Sociedade, taxas e impostos. Com isto, sobraria muito mais dinheiro para as pessoas “competentes” pagarem escolas e hospitais ( e outras coisas que o Governo “rouba” dizendo que vai fazer ), escolhendo os melhores .
4) Para as “pessoas não competentes”, isto é, muito pobres por motivos de doenças, motivos geográficos, etc, a estas o Governo, ou instituições filantrópicas ( há muitas querendo fazer isto, só não fazem porque o Governo não deixa ) , subsidiariam o tratamento , algo do tipo : o paciente escolhe o médico e hospital de seu interesse, apresenta a fatura, o Governo/Entidade Filantrópica audita e paga . Se o Governo pagasse decentemente estes casos , teria médico e hospital em cada rincão deste país. Se se restringisse a pagar isso só para os pobres ( e não para os ricos e classe média ), o dinheiro que gasta no SUS hoje iria dar e sobrar , pois o que ele torra no SUS hoje é um milhão de vezes maior do que o necessário.
5) Mas o Governo não quer esta solução, nem nenhuma outra, pois perde sua boquinha de poder e de maracutaias ao “gerenciar” o SUS. Todo Governo quer criar problemas para vender suas pseudo-soluções estatais.
6) Aí , para fazer o “SUS funcionar” ( algo impossível ), ele está acabando com o resto da medicina e dos hospitais fora do SUS. Está tentando inundar o mercado de médicos mal-formados, faculdades ruins, pseudo-médicos, “escravos” estrangeiros, profissionais não-médicos fazendo o trabalho de médicos, tudo isso para “resolver” o problema de falta-de-médicos no SUS ( não é nem problema de salário; tem muito médico – eu mesmo posso citar vários, a quem me pedir - que prefere trabalhar por menos, em serviços decentes, do que na precariedade das espeluncas do SUS).
Aumenta o número mas a qualidade de pessoal e de instituições despenca, agora dentro e fora do SUS.
7) A assistência médica, hospitalar, dentro e fora do SUS, deteriora-se vertiginosamente, a não ser que você seja rico ou político para se tratar no Sírio-Libanês ou Einstein. Aliás, enquanto hospitais não-estatais para pobres e remediados estão fechando, literalmente em queda livre , os hospitais para “ricos” estão bombando.
8) Além dos já citados acima, há inúmeros outros modos concretos pelos quais o Governo deteriora a medicina não-estatal. Não cabem aqui. Mas, para citar apenas alguns : a ) ninguém , nem particular, nem planos de saúde, querem pagar bem por uma “consultinha”, uma “internação”, um “exame”, já que os há de “graça” no SUS. Planos de saúde adoram este “dumping” causado pelo SUS, pois assim podem pagar médicos e hospitais a preço de banana, lucrando absurdos. b ) “Consultinhas ruins” geram muitos exames, muitos procedimentos médico-hospitalares desnecessários, pouca resolutividade, pouca satisfação do paciente. c) Querendo acabar com toda medicina não-estatal , tudo para “turbinar” a medicina estatal, o Governo, do mesmo jeito que faz vistas grossas às pocilgas de suas unidades de saúde, ferra os hospitais privados, ora com exigências demais, ora com impostos demais, multas demais, número excessivo de funcionários, funcionários desnecessários ( para dar cabides-de-empregos com a mão alheia ), pisos-salariais ( “fazer bonito” para a “classe média” ) , encargos trabalhistas abusivos, etc. Resultado : a cada dia se fecham entre 15 e 20 leitos de hospitais não-estatais por dia no Brasil.
8) Isso tudo, é claro, destrói e precariza empregos médicos. Mas o Governo, assim como seus “braços pelegos”, seus “representantes disfarçados, lobos-em-pele-de-cordeiro”, os sindicatos, não se comovem, pelo contrário, acham bom, pois com menos medicina não-estatal, eles têm mais argumentos para advogar sua “medicina estatal”.
9) Sindicatos Médicos, assim como Entidades Médicas, estão estrategicamente cheios de “governistas”, daí sua eterna “defesa do SUS”, mesmo contrariando aqueles que eles deveriam representar, os médicos, e mesmo precarizando ainda mais a vida daqueles que deveriam defender, os pacientes.
10) Os médicos, hoje, sabem disto tudo, mas não fazem nada ( por exemplo, deixam as Entidades fazerem coisas pró-Governo, em seu nome ) porque, como todo bom brasileiro, ainda sonham com sua “boquinha” no Governo. Com sua vida médico-hospitalar cada vez mais precarizada, pelo próprio Governo, sentem-se acuados, não vêem mais perspectivas na “vida-fora-do-Governo” ( como vimos, o Governo faz de tudo para acabar com estas perspectivas ) , e aí , como toda a Sociedade Civil brasileira, ficam mais ansiosos por concursos, admissões em empregos públicos, “carreiras-de-Estado” e mais dependentes de “boquinhas-no-Estado”. Os “dirigentes governistas” de Entidades Médicas adoram esta “filiação” que o médico brasileiro, assim como todo brasileiro aliás, têm pelas “boquinhas públicas”. Esta “filiação pró-Governo” é que permite que Entidades Médicas continuem agindo contra os interesses da Medicina e de grande parte dos médicos que não têm boquinhas no Estado, ou que preferem a Medicina de qualidade às boquinhas pessoais no Estado.
Bom, com isto tudo, espero ter podido explicar a “passeata do Sindicato dos Médicos de São Paulo em defesa do SUS”.
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Marcelo Caixeta, médico psiquiatra.
http://www.apm.org.br/noticias-conteudo.aspx?id=11925
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