ASSOCIAÇÃO DEFENDE SALVAÇÃO DOS PEQUENOS/MÉDIOS HOSPITAIS, QUE ESTÃO SENDO DIZIMADOS NO BRASIL. UMA
- marcelofcaixeta
- 15 de abr. de 2015
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Na última revista da Associação Goiana dos Hospitas, ano V, número 18, seu presidente, e também vice-presidente da Federação Brasileira dos Hospitais, Adelvânio Morato, diz : “Precisamos compreender que a assistência à saúde começa nos hospitais ou clínicas de pequeno porte, onde é feito o primeiro diagnóstico. Ali se determina qual o tipo de atendimento o paciente deverá receber e onde acontecerá, podendo ser transferido para unidades de médio ou grande porte, de acordo com a necessidade. Precisamos incentivar e dar o devido valor aos hospitais de pequeno porte no interior, que também salvam vidas e prestam o primeiro atendimento. É um erro atribuir apenas aos hospitais de grande porte um maior grau de importância. Devemos reconhecê-los, valorizá-los e lutar por investimentos na sua eficiência. Na verdade, o foco deve ser dirigido muito mais para o aperfeiçoaamento da rede do que melhorar isoladamente este ou aquele hospital de grande porte”.
A estas “qualidades” de pequenos hospitais eu acrescentaria o que eu acho principal no atendimento médico : a atenção individualizada, o tempo dedicado ao doente, o aprofundamento em cada caso, a visão do paciente como ser inserido bio-psico-socialmente, a valorização do médico, que, nestes locais, pode ser “dono-do-próprio-nariz”, assumir as próprias condutas, dar um selo pessoal à condução do caso, dedicar-se como alguém da “iniciativa privada”, como alguém que tem orgulho de seu trabalho, alguém que valoriza o trabalho pessoal bem-feito, e não apenas como um “apêndice assalariado” do Governo ou como um empregado de um “grande grupo”, de um “grande patrão empresarial”. O pequeno/médio hospital, assim como o pequeno/médio negócio, favorece aqueles que querem evoluir pessoalmente, aqueles que querem prestar um bom serviço sem deixarem de ser ativos, sem deixar de imprimirem o selo próprio, a própria iniciativa privada no negócio. O “assujeitar-se” ao grande patrão empresário, assim como ao grande patrão Governo, em muitos casos, impede a evolução daqueles que querem evoluir, aqueles que querem deixar de “serem empregados”, aqueles que querem deixar de serem tratados e de tratar os outros como meros números. Em síntese, a “evolução espiritual” do homem depende da própria iniciativa, e o Governo, assim como os “grandes patrões” asfixiam esta possibilidade. Na medicina isto é catastrófico, pois a impessoalidade gera muitas mortes, muitos gastos, exames desnecessários, tecnologias e mais tecnologias para cobrir a falta de humanidade e de raciocínio clínico e assistência na beira-do-leito, procedimentos invasivos, procedimentos encarniçados, etc. Médico, como qualquer outro profissional, só se dedica bem quando está “cuidando do que é seu”, quando “se sente em casa”, quando recebe de acordo com o que produz de fato, quando angaria reconhecimentoo por sua técnica e humanismo personalizados, quando tem tempo de fazer o que gosta e é recompensado devidamente por isto. Isto, de modo geral, só pode acontecer em pequenos/médios hospitais, hospitais onde os líderes do atendimento só tem tempo de serem médicos e não grandes empresários, não “políticos-da-saúde”. Grandes empresários, “políticos-da-medicina”, estes já deixaram de ser médicos há muito tempo, inclusive porque não há como ser um bom médico e um “grande líder empresarial” ou um “grande político”, seja da saúde, seja da politicagem em geral.
No Brasil, fazendo coro ao Dr. Adelvânio, o que vem acontecendo é o contrário disto que ele defendeu acima. O que vem acontecendo é a dizimação dos pequenos/médios hospitais. Só estão sobrando os do Governo ( aí incluindo as Organizações Sociais ) e os “Grandes Grupos”. Veja-se em Goiás mesmo : só grandes hospitais do Governo sendo inaugurados. Até o futuro grande hospital governamental do Ipasgo, dizem, seria “tocado” pela grande empresa Sírio-Libanês.
Uma amiga me disse semana passada que, ao chegar em um grande hospital em Anápolis, ficou assustada com o número de pessoas lá dentro. Disseram-lhe : “os outros aqui da cidade estão quebrando ou em grandes dificuldades. O Hospital Espírita mesmo, ficou um mês com as portas fechadas, estes dias atrás, e está capengando”. “Vai sobrar mesmo só este aqui”.
As políticas governamentais têm dizimado os pequenos serviços, serviços estes que, como muito bem disse o Dr. Adelvânio, poderiam estar espalhados e salvando vidas no interior. Mas acontece o contrário disto, estão desaparecendo.
Os motivos são vários e complexos, mas podemos tentar resumir superficialmente. Em primeiro lugar há o “dumping” feito pelo Governo, que monta determinadas estruturas, de início bem vistosas, estas estruturas de início acabam com a iniciativa privada , mas logo se vê que não funcionam, não resolvem, e aí a população fica sem uma e sem outra. A política deliberada dos Governos , de modo geral, não é a de ajudar os hospitais de iniciativa privada, mas desprezá-los, quando não asfixiá-los e esmagá-los. Taxas e mais taxas, impostos e mais impostos, normas, exigências e mais exigências ( feitas adequadamente para grandes hospitais, mas que querem, maquiavelicamente, aplicar aos pequenos ), número progressivo de contratação de funcionários, mesmo de pessoal desnecessário, mesmo de pessoal que tem cada vez mais e mais pesados direitos trabalhistas e salariais, linhas de crédito abertas apenas para os “grandes-hospitais-aqueles-amigos-do- rei”, implementação hospitalar do “capitalismo de Estado”, ou seja, valorização apenas daquelas poderosas “empresas-de-ouro” carimbadas pelo Governo para serem as campeãs do mercado, etc. Tudo isto tem levado a uma ( sem exagero da palavra ) dizimação de pequenos/médios hospitais no Brasil.
Isto gera inúmeros problemas, entre eles o “desabastecimento médico-hospitalar” e o mal-atendimento-médico-hospitalar ( pois, como vimos, o “médico empregado” nunca é tão bom médico quanto o médico que é livre para criar, para trabalhar, para implementar a iniciativa privada de ser o dono-do-próprio-nariz ). Estes graves problemas médico-hospitalares que têm ocorrido pelo Brasil afora, exceto o de saírem na mídia, não dão repercussões reais, pois de modo geral o sistema judiciário, promotores, instituições, mídia, etc, estão do lado do Governo, estão do lado de grandes empresas, tendendo a culpabilizar ora o médico ( que está na linha de frente ), ora a pequena estrutura, aquela que também , dado o seu pequeno tamanho, coloca o seu na reta. Os “grandes chefes” das grandes empresas e do Governo escondem-se estrategicamente por detrás de muita gente , muita burocracia, muito poder, e não são atingidos. As valorosas - e infelizmente poucas - parecelas do judiciário, ministério público, órgãos de classe, imprensa, defesa do consumidor, órgãos policiais, políticos, etc, que não estão “contaminados” pela tendência a privilegiar o poder ( tanto estatal quanto empresarial ) , são “contaminadas” pelo desconhecimento da situação . Prova disto é que, exceto meus artigos ( e agora também o parabenizado artigo do Dr. Adelvânio ) nunca vi nada falando da escandalosa dizimação do parque médico-hospitalar brasileiro, sobretudo no interior. Ou seja, os que poderiam ajudar a mudar este estado de coisas, não estão nem sabendo do problema...
Não fosse isto, as inúmeras denúncias médicas decorrentes deste estado de coisas ( mal-atendimento médico-hospitalar por falta de profissionais engajados/preparados, falta de humanização, falta de atenção, de individualização dos diagnósticos e tratamentos, falta de denôdo médico-profissional, etc. ) seriam devidamente apuradas, pelas várias instâncias discricionárias, seriam aprofundadas, debatidas, discutidas à céu aberto, até chegar-se ao cerne da questão, que eu já pincelei aí acima. No momento, na falta disto, ou seja, na falta de entender-se o maquiavelismo das estruturas governamentais-empresariais montadas para destruir o pequeno/médio hospital, pune-se e acusa-se sempre a pessoa física, seja o médico, seja o diretor da instituição.
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